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A Crise Internacional

 

Muitos acreditam que aprendemos com os erros do passado e, que uma crise financeira das proporções da última sofrida nunca mais ocorrerá. Não sei se as pessoas ainda se recordam, mas a crise chamada de especulativa imobiliária que teve suas raízes nos Estados Unidos em 2008 não era esperada nem sequer imaginada.

 

Suas proporções atingiram os quatro cantos da terra, tendo em vista que hoje temos um mercado globalizado onde todos investem em tudo. Esta última crise chegou a quase arruinar completamente países como a Grécia e prejudicou extremamente o sistema financeiro de toda a Europa.

 

Se uma empresa quebra aqui no Brasil hoje, algum investidor Chinês, Norte Americano ou até mesmo indiano pode sofrer as conseqüências. Por conta do mercado globalizado todos podem investir em tudo. Para entender uma crise destas e tentar prever a possibilidade de outras ocorrerem, é preciso saber como se inicia todo o processo econômico de impacto mundial.

 

Bem vindos ao mundo comandado pelo lucro e pelas finanças. O dinheiro dá poder a quem o tem e pode comprar quase tudo, manipular resultados, trabalhar com seus concorrentes como se fossem peões num tabuleiro de xadrez. Mas temos visto ultimamente que ele pode mudar de mãos muito rápido e, instituições centenárias podem quebrar da noite pro dia. As finanças de toda uma vida podem simplesmente desaparecer em meio a processos binários em um computador qualquer e não há como ser recuperado.

 

Cientistas financeiros até hoje se perguntam como um pequeno problema local com hipotecas e subprimes poderiam culminar numa crise internacional massiva com poderes titânicos sobre as finanças da humanidade? Como deixamos chegar até este ponto? Veremos isto novamente? Aprendemos com nossos erros ou simplesmente lucramos muito com eles? Quem lucrou de verdade? Os prejudicados ainda estão vivos para contar a história? Onde eles vivem hoje? Certamente algumas dessas perguntas podem ser respondidas aqui e outras, por motivos óbvios não ouso deixar em aberto na Internet.

 

Precisamos saber porque o dinheiro exerce um papel dominante em nossas vidas. Como isso aconteceu? Será sempre assim? Qual a evolução do poder econômico daqui pra frente no mundo digital?

 

Os bancos financiavam o renascimento enquanto o mercado de títulos decidia guerras. As bolsas de valores construíram verdadeiros impérios e as quedas monetárias criaram revoluções em muitos locais do planeta. Um padrão interessante aqui é que, a evolução do dinheiro sempre teve seus picos ilustrados por crises financeiras que simplesmente se mostraram como a porta de entrada para uma nova era econômica. Desde a antiga mesopotâmia até os tempos atuais vamos tentar mostrar o que este padrão de crises financeiras tem ocasionado além do crescimento do poder do dinheiro no mundo.

 

A ganância do homem é a principal fonte de alimento do poder que o dinheiro possui hoje.

 

Na antiga mesopotâmia as pessoas usavam pequenas barras de argila esculpidas para validar suas transações de troca por terreno, gado ou qualquer outra coisa que tivesse valor. A confiança depositada nestes tabletes de argila era o suficiente para dizer quanto ele valia. Este tablete poderia ser utilizado em outras cidades pelo mesmo valor agregado ou poderia ser trocado por outro tipo de benefício. Poderia por exemplo ser pago ao portador do tablete a quantidade de 5 kilos de grãos ou duas ovelhas, por exemplo.

 

Tanto o tablete de argila quanto o dinheiro em papel moeda que temos hoje não tem valor algum em si. Apenas a promessa de pagamento, ou seja, dizem que valem algo e as pessoas fazem trocas confiando nisto.

 

Com a evolução entenderam que a argila era comum a todos e esta garantia de benefícios poderia ser construída por qualquer um e, então, decidiram usar metais preciosos para ser a garantia de pagamento. O ouro e a prata foram os mais utilizados durante a idade média. Porém, eles se tornaram tão preciosos que costumavam ficar confinados em cofres de poderosos e então os títulos tiveram de ser criados. Os títulos nada mais são do que papéis que se dizem valer uma determinada quantia em ouro ou prata.

 

Logo, o acúmulo de metais preciosos chamou muita atenção e ladrões faziam de tudo para saquear as grandes fortunas escondidas. Grandes casas de guarda de ouro e prato foram construídas e, os ricos e poderosos deveriam pagar um pequeno percentual para ter suas finanças seguras. Daí foram criados os bancos. E os donos destas primeiras “casas fortes” ficaram ricos muito rapidamente tamanha a quantidade das grandes fortunas que tinham de guardar. Isso fazia com que seus percentuais crescessem cada vez mais.

 

Porém a ambição dos homens não termina por ai. Os que tinham muito como os novos banqueiros queriam muito mais e, começaram a emprestar grandes quantias a realeza. E quanto maior a quantia, maior os juros que eram cobrados. Logo a fortuna dos donos de bancos se multiplicou e eles tiveram a oportunidade de financiar impérios e guerras.

 

Mas nisso tudo haviam dois problemas a serem resolvidos. Se eles emprestassem ao reino A e o reino B ganhasse eles teriam perdido dinheiro uma vez que o reino perdedor ficava sem ter como pagar a dívida. E o outro problema era que o ouro e a prata eram difíceis de transportar e perigosos uma vez que os assaltantes arriscavam tudo para roubar as fortunas.

 

Os banqueiros da época eram muito inteligentes e tinham muito dinheiro então, resolviam apostar nos dois lados da guerra. Isto mesmo, eles financiavam os dois lados e o lado que ganhasse poderia pagar juros duplicados por conta dos espólios de guerra. Agora o lado que perdesse pagava com o que tinha e perdia absolutamente tudo, o restante de suas riquezas e também suas terras.

 

O segundo problema era a portabilidade das riquezas, então, ao invés do ouro e da prata viajarem os títulos que garantiam – em papel – o pagamento ao portador em quantidade de ouro e prata iam nas caravanas que poderiam viajar muito mais rápido. Com mais terras e mais dinheiro, os banqueiros resolveram abrir bancos em outras cidades e outros países para que tivessem estoques financeiros em outros lugares e que pudessem alcançar um número maior de pegadores de empréstimos a juros altos. A descentralização dos empréstimos foi a chave para conseguirem lucros assombrosos. Se a pessoa não pagasse perdia as terras, as quais tinham de ser dadas como garantia. Assim o banco nunca perdia, pois a terra não perde seu valor, segundo o fato de que, para crescer, um reino ou império precisa de terras e pessoas trabalhando nelas. Algo que os bancos produziam muito, uma vez que, quem não pagasse perdia sua terra e era obrigado a trabalhar nela para pagar o restante da dívida.

 

Com o passar do tempo os bancos entenderam que a maior parcela da população não era composta por nobres, mas a maior parcela da população era pobre e não tinha condições de ter um título com valor em ouro. Então os bancos resolveram diminuir o tamanho e valor dos títulos em papel e criou-se o papel moeda. Para que todas as classes de todos os países pudessem pegar empréstimos a crédito nos bancos e, por razão da inexistência de garantia, aumentaram estratosfericamente os juros. E os bancos cresceram mais do que o Produto Interno bruto de muitos países.

 

 

Voltando para os tempos atuais, a ganância do homem cresceu ainda mais e todos conseguiam ver os bônus milionários e as vezes até bilionários que os grandes negociantes de crédito ganhavam em wall street. Isso atiçou a ganância de muitos que começavam a emprestar até dinheiro que não existia.

 

Inicialmente esta loucura começou com as propagandas de crédito para comprar a casa própria. Você podia comprar sua casa se não tivesse nenhuma e, poderia pagar a perder de vista com valores mensais que caberiam perfeitamente no seu bolso. E você que já tivesse uma casa, poderia comprar outra para alugá-la. Porém, a ambição foi alimentando este novo mercado e as pessoas hipotecavam suas casas, compravam outras e hipotecavam também para comprarem uma terceira com o foco em investimento. O problema é que se todos fizerem isso ninguém mais vai alugar para poder pagar o empréstimo. E foi o que aconteceu. Ninguém mais podia pagar o empréstimo tomado ao banco e, além de perderem seu imóvel de investimento, perdiam também sua casa por haver sido hipotecada e não terem mais como pagar a hipoteca.

 

Os bancos tinham muitas casas mas nenhum dinheiro e, com o medo da crise iminente muitas pessoas foram tirar seus investimentos do banco e, qual foi a surpresa delas em chegar lá e ver o banco com as portas fechadas? Isso mesmo, o calote que os bancos tomaram fez com que eles perdessem o dinheiro dos investidores também. Então, quando a pessoa ia ao banco sacar alguma coisa para comprar itens de primeira necessidade, sua conta havia sido esvaziada literalmente.

 

Imediatamente as empresas começam a demitir pessoas visando minimizar as dívidas que não podiam mais ser pagas, haja vista as contas das empresas também estarem vazias e, portanto, não tinham como pagar todos os funcionários. Muitas empresas faliram, pessoas perderam suas casas e empregos e milhares ficaram sem ter o que comer.

 

Neste momento o governo dos Estados Unidos interviu com um pacote histórico de setecentos bilhões de dólares para parar a sangria e tentar recuperar algumas empresas. É claro que aquelas empresas maiores, chamadas de “Muito grandes pra quebrar”, foram auxiliadas primeiro. Se empresas do porte da General Motors falissem, o governo dos Estados Unidos talvez não conseguisse se recuperar do impacto que iria ser gerado na economia. Pois se as pessoas ficassem sem emprego elas não poderiam mais comprar e as poucas empresas que produziam e não vendiam mais teriam que demitir os funcionários que restavam e fechar suas portas arruinando de uma vez por todas a economia.

 

Daí você pode me perguntar se outra crise dessa seria possível. Eu digo que sim, caso o sistema econômico não sofra uma regulação e fiscalização intensa, as pessoas vão continuar emprestando dinheiro que não existe e criando derivativos de fachada pra poder ganhar a custa dos outros, fazendo a economia quebrar novamente.

 

Esta última crise foi bater na porta da Europa, pois muitos investidores e bancos europeus tinham papéis e títulos e ações das empresas americanas que quebraram, como o Leman Brothers por exemplo. E, num mercado interligado globalmente, a queda de um é a ruína de outro mesmo que do outro lado do mundo.

 

Que Deus nos abençoe e nos guarde. 

 

Autor: Gleysson Salles

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